sábado, 28 de setembro de 2013

A importância do Treinamento na Venda Direta

Por Marcelo Alves e Marcelo Pinheiro

Analisando a evolução dos negócios de Venda Direta de 2012 para o primeiro semestre de 2013, identificamos uma retração na contratação de treinamentos. Essa constatação nos surpreendeu, como consultores especializados, pois aponta para um cenário intrigante: como tantos novos negócios, que apresentaram um recorde histórico de projetos de start-ups ingressando na Venda Direta brasileira de 2012 para 2013, não refletiram na mesma proporção a preocupação com capacitação de seu canal de vendas e de seus líderes, atividade fundamental para estruturar a etapa inicial de todo novo negócio?
Uma pesquisa que analisa a tendência e alocação de investimentos em treinamento, conforme estimada por empresas dos mais diversos segmentos, e que vem sendo realizada há sete anos por uma consultoria especializada em RH, em sua edição 2013 (divulgada no início do ano na revista “T&D”), apontou que para este ano as empresas consultadas pretendem investir 14,3% a mais em treinamento e desenvolvimento, um índice superior ao PIB do Brasil.
É um retrato promissor, porém, aparentemente, não foi essa mesma visão que norteou as empresas que inauguraram suas operações na Venda Direta brasileira nos últimos 12 meses. Podemos especular que uma das prováveis causas dessa negligência com a capacitação de suas equipes recém-criadas, é a indisponibilidade de orçamento. No entanto, paradoxalmente, é justamente toda a alocação de recursos investida em infraestrutura operacional e em produtos que pode ser afetada negativamente e ser desperdiçada diante da ausência de investimentos em treinamento e capacitação das equipes. É por meio de treinamento estruturado que elas conhecerão e valorizarão cada processo da empresa que representam.
Vejamos algumas consequências da falta de treinamento para a Força de Vendas (gerentes de venda e supervisoras de área) em uma empresa de Venda Direta:

- Consequência 1: Perda de foco e alocação de esforços distorcidos e ineficazes no trabalho de campo.
Causa (decorrente da falta de treinamento):
Desconhecimento das prioridades da empresa (que podem mudar), sendo inicialmente a construção de canal, podendo passar depois de alguns meses para retenção do canal obtido na fase inicial e chegar, em uma terceira fase, no desenvolvimento da produtividade de cada revendedor autônomo e no aumento do ticket médio por cliente final.

- Consequência 2: Dificuldade em consolidar resultados efetivos nas fases iniciais da operação.
Causa (decorrente da falta de treinamento):
Dificuldade em disseminar e explicar detalhadamente a metodologia e dinâmica adotada pela empresa na definição das metas mensais (canal, vendas e produtividade), gerando resistência e desconfiança na Força de vendas em relação ao processo de definição de metas, que as recebe como que “por obrigação”, sem cumplicidade.

- Consequência 3: Baixa eficiência operacional devido a retrabalho das áreas internas voltadas a apoiar a área comercial
Causa (decorrente da falta de treinamento):
Desconhecimento dos processos internos e dos fluxos de trabalho das áreas de apoio, sem a oportunidade de que todos conheçam de forma alinhada os instrumentos e rituais que deveriam adotar e respeitar para que as áreas internas trabalhassem de forma eficiente - para atividades como captação, processamento de pedidos, envio de materiais para endereços atualizados e para agirem em tempo hábil para reverter quadros desfavoráveis para a operação e para a receita, como por exemplo, inadimplência e custos decorrentes de faturamento incorreto de pedidos.

- Consequência 4: Incapacidade de uma gestão eficiente das equipes
Causa (decorrente da falta de treinamento):
Defasagem, atraso ou fragilidade  na disseminação estruturada de conceitos fundamentais para toda e qualquer operação de venda direta, como a orientação em profundidade do fluxo de gestão de Indicadores (“KPI’s “).

Muitos empreendedores pensam em “pular” essa etapa, economizando no investimento de Treinamento de sua Força de Vendas, por acreditar que os processos e rituais de desenvolvimento do trabalho na sua empresa de Venda Direta virão das experiências, ritmo de trabalho e preferências dos próprios gestores recém-contratados, que, vindo de outras empresas do mesmo segmento, já os trarão prontos.
Na prática, essa visão distorcida acabará por criar uma empresa sem sua própria identidade e cultura corporativa, com sérios conflitos em seus fluxos internos, uma vez que suas práticas internas e mesmo em campo (nas missões críticas de construção de canal, “market share” e “share of mind” para os produtos), vai se consolidando como uma colcha de retalhos de práticas subaproveitadas de outras empresas – frutos de crenças, portfólio de produtos e estrutura operacional diferentes e específicas. Para empresas que fizeram essa “opção estratégica”, a economia no treinamento inicial que deveria cristalizar suas regras, processos, missão e visão logo na etapa inicial do negócio será refletida em custos maiores para re-orientar suas equipes “do zero” ou mesmo reconstruí-las, talvez em um momento mais crítico no qual as equipes já poderiam estar focadas e comprometidas na manutenção do canal arduamente captado e no crescimento da produtividade média desse canal.

Com a diversidade de metodologias e recursos que inclusive o ensino à distância hoje proporciona, não há desculpas plausíveis para que as empresas de Venda Direta negligenciem o investimento em treinamento de suas equipes e Força de Vendas. A especificidade das práticas de trabalho, a velocidade de crescimento e de mudanças neste segmento ano a ano e a evolução no profissionalismo dos “players” é implacável com tal “estratégia”.